Recortes: Um balanço de 2012

O texto que saiu no Expresso (Actual), com o meu balanço de 2012 no capítulo da banda desenhada e da ilustração, era um pouco mais pequeno, mas publico aqui a versão sem limite de caracteres, bem como a lista dos dez livros que escolhi de entre os que foram publicados em Portugal no ano que passou:

Marco Mendes, Diário Rasgado, Mundo Fantasma/Turbina
Carlos Pinheiro e Nuno Sousa, Sobrevida, Imprensa Canalha
Marjane Satrapi, Persépolis, Contraponto
Paula Carballeira e Sonjia Danowski, O Princípio,Kalandraka
Isabel Minhós Martins e Bernardo Carvalho, Ir e Vir, Planeta Tangerina
Anouck Boisrobert, Louis Rigaud e Sophie Strady, Na floresta da preguiça, Bruaá
Tatiana Salem Levy e Vera Tavares, Curupira Pirapora, Tinta da China
Ciryl Pedrosa, Portugal, Asa
Alison Bechdel, Fun Home, Contraponto
Benjamin Chaud, A Cantiga do Urso, Orfeu Negro

Só o futuro o dirá, e terá de o dizer contra a crise que tudo ameaça, mas este poderá ter sido o ano em que a banda desenhada voltou a ser publicada a pensar em leitores adultos e exigentes, e não exclusivamente em coleccionadores ou ‘bedéfilos’. Persépolis, a obra mais reconhecida de Marjane Satrapi, e Fun Home, de Alison Bechdel, saíram na Contraponto, uma chancela algo inesperada para o germinar de um catálogo que, a seguir esta linha, tem tudo para ser extraordinário. O volumoso Blankets, de Craig Thompson, chegou finalmente ao mercado português (com chancela Devir), ainda que envolto em encómios que dizem mais sobre algum desconhecimento do panorama da bd mundial do que sobre o próprio livro – um marco importante, sim, mas não propriamente uma obra-prima. A Asa apostou em Portugal, de Cyril Pedrosa, e marcou o ano com essa aposta.
A edição de pequena escala, entre aquilo a que chamam alternativos e projectos que não têm maior expressão comercial porque a dimensão do mercado não o permite, confirmou o seu papel. Marco Mendes publicou um livro essencial, a Polvo editou livros de Rui Lacas e Cyril Pedrosa (de certo modo, replicando os autores da Asa com livros menos destinados ao sucesso comercial, mas nem por isso menos pertinentes), a Imprensa Canalha voltou a apresentar uma selecção de luxo e vários projectos, quase todos fora do alcance do radar comercial e crítico, deixaram marcas duradouras neste ano que agora finda.

No capítulo dos álbuns e da ilustração, o ano voltou a ser memorável, facto que nada deve à quantidade de livros publicados num sector que terá menos motivos para se ressentir da crise do que outros, mas antes à construção criteriosa dos catálogos de algumas editoras, entre projectos muito recentes e outros já firmados. Para além das escolhas da lista, é importante registar o trabalho de editoras como a Bags of Books e a Tcharan, recentes, a Caminho e a Livros Horizonte, que permanece como referências imprescindíveis, a Pato Lógico, dividida entre o impresso e o digital, e a Boca, com o texto e a imagem a apoiarem audiolivros de excelência.

Sara Figueiredo Costa
(publicado no Expresso, suplemento Actual, Dezembro 2012)

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